quarta-feira, 19 de outubro de 2011

RELEMBRE – Alexandre Raposo afirma: “O SBT JAMAIS me fará perder o sono” (2009)

O presidente da Record não teme quedas na audiência e não considera o SBT um perigo. Na busca pelo 1º lugar, diz que ‘estado’ e ‘Igreja’ são mundos separados na emissora.
A crise de audiência das TVs não parece minar a obsessão de uma emissora vendida há 20 anos por Silvio Santos a um bispo evangélico. A Record de Edir Macedo quer ser a maior TV do País em não mais do que 10 anos. Alexandre Raposo, presidente da emissora e comandante do projeto, recebeu o JT na última quarta-feira em sua sala na sede na emissora, na Barra Funda, para falar sobre o que acontece, para o bem e para o mal, no país da televisão.
Qual foi a última coisa que o senhor viu na TV?
O programa A Fazenda (reality show da Record). Gostei muito.
E na concorrência?
Eu não vejo a Globo.
Não mesmo? Naquele domingão, relaxado em casa, nunca se senta para ver o Faustão?
Quem tem o Tom Cavalcante não precisa do Faustão, mas fico sabendo tudo o que rola lá, só não perco o meu tempo com a Globo. Eu sempre fui anti-Globo. Na infância assistia ao SBT e à Manchete. A Globo sempre foi impositiva, priorizou apenas ela e ela mesmo, nunca vi um artista de outro canal na Globo. Eu gostaria de ter visto o Tarcísio Meira sendo entrevistado pelo Silvio Santos, mas a Globo não libera seus artistas. Sempre achei arrogante, ruim para a democratização da cultura no Brasil. Percebi que o modelo ideal de TV não era aquilo.
É como um ato impensado: quando uma pessoa vai ligar a TV, liga na Globo. Esse comportamento não é o maior desafio a ser vencido pela Record?
Esse inconsciente não é mais tão forte como foi no passado. Aquele discurso de que todo o Brasil liga na Globo não é mais verdade. Mais da metade das pessoas está na Record, na Band, na Rede TV! e até no SBT (segundo números do Ibope TeleReport Nacional e TV Foco, a média de audiência da Globo em abril deste ano foi de 53% contra 19% da Record, 16% do SBT, 7% da Band, 3% da RedeTV! e 2% da Rede Pública de Televisão).
Há três anos o senhor falava que não se importava com o SBT, que mirava a Globo. Números recentes mostram que a emissora de Silvio Santos cresceu enquanto a Record perdeu audiência. O SBT começa a tirar seu sono?
O SBT jamais me fará perder o sono. Jamais. Eu sempre digo: nós não competimos com o SBT, nosso concorrente sempre será a Globo. Não dá para olhar para o segundo lugar, nós temos de olhar para o primeiro.
A Record perdeu, em um ano, 25% de audiência. O que está acontecendo?
A queda do número de aparelhos ligados faz a audiência cair. Quando cai o número de ligados, você cai. Mas acho que subir e cair um pouco é natural, não há nada de anormal. E se nós perdemos a audiência, não foi para o SBT.
O reality show ‘A Fazenda’ não foi entregue para um elenco muito desconhecido, de semi-celebridades?
O grande lance não é ter megafamosos no reality show, mas pessoas que o público conheça. Se você andar com a Mulher Samambaia pela rua e andar com alguns atores da novela das oito da Globo, o povo não saberá quem são os atores, mas saberá quem é a Mulher Samambaia. Isso porque aquele ator que está no meio de uma novela com 80 atores acaba aparecendo muito pouco e não sendo conhecido pelo público. Agora mesmo eu estava em uma festa conversando com o filho da (jornalista) Leda Nagle (Duda Nagle), e perguntei: ‘Mas você não pensa em ser ator?”. Ele disse: “Eu estou na novela das oito (Caminho das Índias)”. E eu disse: “Desculpe, mas não assisto à Globo.” Será que só eu não o conhecia? Acredito que outros não o conheciam. Isso não aconteceria se fosse a Mulher Samambaia, a Danni Carlos, o Dado Dolabella.
O senhor só não está levando em consideração o fator ‘conteúdo artístico’.
Não, acho que essas pessoas que lá estão podem não ter a melhor fama do mundo, mas têm um conteúdo artístico interessante.
O leitor vai cobrar esse conteúdo artístico do senhor…
Por favor. A equipe de produção do reality acompanhou, o programa tem que ter uma liga.
Tem que dar confusão.
Não, não é isso.
O povo quer ver briga.
Não, quer ver competição, a competição é que é interessante, ela é que gera confusão. Eu assisti à Casa dos Artistas 2 (SBT), não tinha competitividade, as pessoas não queriam disputar. Era um clube de amigos, não funcionou.
A novela ‘Poder Paralelo’ acabou de ter cenas consideradas picantes cortadas pela direção da Record. ‘Poder Paralelo’ estava virando um poder paralelo dentro da emissora?
Não, de maneira nenhuma. Divergência em texto é a coisa mais natural do mundo. Acontece que você tem a classificação etária (para que programas possam passar em determinados horários na TV).
Os cortes não tiveram a ver com a Igreja Universal?
Igreja? Como Igreja? Claro que não, isso é um absurdo. Não tem nada a ver uma coisa com a outra.
Pergunto porque as pessoas se perguntam. Os bispos não teriam aceitado os conteúdos de cunho sexual nos diálogos.
Não é isso, não tem cabimento. A Igreja é uma anunciante da Record. É como se você me perguntasse se os cortes não têm a ver com o Bradesco, com a Brahma?
Por que sempre essa pergunta soa tão ofensiva? Se a Igreja é a dona da Record, ela não poderia ter influências na emissora?
Porque quando você cita Igreja, sempre cita com um viés preconceituoso. Quando você entrevista alguém da Globo, você pergunta para eles se a Igreja Católica tem influências sobre a novela das oito? Gostaria que você fizesse essa pergunta a eles. Eu nunca vi um casamento evangélico lá. Na Record tem. Por que eles não mostram isso se 40% da população do País é evangélica? E eu pergunto: A Igreja Católica não influencia na Globo?
E por que a Igreja Católica influenciaria na Globo?
Não sei, só estou colocando…
A relação da Record com a Universal é intrínseca, a relação de Globo com Igreja Católica não parece tão óbvia…
Lá os donos são católicos, aqui o dono é evangélico. A relação é a mesma, ou não é?
A diferença é que aqui o fundador da Universal, bispo Edir Macedo, é o dono da emissora.
Mas ele não participa da gestão da TV, nunca participou. Ainda que participasse, não teria influência da Igreja. Mas faço esse questionamento: será que a Igreja Católica influencia lá? Nós aqui vendemos horário para a Igreja Universal. A Bandeirantes vende horário para a Igreja da Graça. A Rede TV! vende para a Universal, para a Igreja da Graça e para outras que não me recordo. A nossa relação com a Igreja é de anúncio. Mas o mais importante é que nós somos um mercado evangélico. Hoje, todas as emissoras têm programas de igreja, inclusive a Globo, que tem da Igreja Católica. Eles não passam o programa do Padre Marcelo?
A Record exibe de madrugada programas evangélicos como o ‘Fala que eu Te Escuto’ e, de dia, novelas de diálogos picantes como ‘Poder Paralelo’. A mesma emissora que vai à igreja de madrugada vai ao inferno à noite?
Primeiro que de noite você não tem o inferno, tem uma programação de qualidade, informação de coisas boas e ruins. E na madrugada são coisas separadas, o programa é produzido pela Igreja.
O significado de ‘inveja’, segundo a Igreja Católica: ‘Desejar atributos, status, posse, habilidades do outro’. A Record não está cometendo esse pecado?
Não, desejar o 1º lugar significa ter empreendedorismo, ter visão, obstinação. E a gente não pensa em ser melhor do que a Globo, pensamos em ser uma emissora mundial. Não é um pecado, mas, se fosse, eu gostaria de cometê-lo.
Por quê?
Para fazer diferente, para democratizar a informação, para tornar a informação disponível.
E hoje ela não é disponível?
Ela é mais livre do que já foi no passado, mas ainda, em alguns veículos, percebemos informações focadas para algum interesse, algum partido, algum segmento. Vivemos em um país democrático, mas ainda existem tendências. E um veículo democrático tem de estar neutro.
Televisões no Brasil já elegeram presidentes, já derrubaram também. Ao se criar uma grande emissora de TV não se pode estar criando um monstro? Não, sabe por quê?
Ninguém jamais terá a hegemonia que a Globo teve. Com as novas mídias, novos canais, é impossível. Mas, se houvesse, meu conselho para quem se tornar líder é cultivar a humildade.
As pessoas esquecem disso tudo quando estão lá em cima.
Esquecem quando não têm caráter nem personalidade. Você não me conhece, mas quem me conhece sabe que sou a mesma pessoa desde quando era assessor administrativo aqui na Record. Se perguntar por aí, vai ver que eu não mudei absolutamente nada.
Se Edir Macedo fosse católico, a Record seria o que é hoje?
Se fosse católico? (pausa). Como ele não participa da gestão, e não temos aqui uma gestão ligada a nenhuma religião, isso não faria nenhuma diferença.
Com informações do site NaTelinha

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